sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A casa de lá.


(obrigada por pintar tantas casinhas, Monet)


O Sol se põe com uma letargia descomunal, em mais um fim de tarde qualquer. Meus olhos estão fixos na tela borrada com as mais diversas cores – antes apenas manchada de um branco sonso, sem gosto. Sinto um orgulho quase irreal, como se tal obra fosse minha. Talvez seja por ser um trabalho seu, tão amado e tão considerado, que esse sentimento ganhe forças em mim.

Aperto os olhos com força, tentando visualizar a casinha pintada ao fundo da paisagem. Ali parece ser um lugar tão calmo, repleto de uma paz que a cidade grande não traz. O lugar perfeito para se viver com o seu amor, criar seus filhos, fugir da rotina imposta pela mídia e pelo Sistema. Deixo que meus pensamentos voem até a trilha que leva à casinha simples, e penso se não seria melhor largar tudo aqui, na cidade grande, e correr para lá com você. É uma possibilidade a se pensar.

Atento-me agora ao pequeno lago cristalino, que se localiza há não mais que quinze metros de distância da casa simplória. O lugar parece ser confortável na paisagem primaveral, e me pego pensando como seria nadar naquelas águas calmas com você ao meu lado, em um verão qualquer nos dias de dezembro. Ou melhor, com nossas pequenas crianças (sim, minha querida, você sabe que serão mais que duas). 

Tenho tempo suficiente para observar o gracioso jardim que enfeita a frente da casa. Das mais variadas flores, você conseguiu unir cor e beleza, como sempre. Mas não há tempo para me ater aos detalhes do céu, pois você me encara com a expressão brava e as mãos na cintura. Seguro um sorriso ao observar o quão bela você fica assim, toda suja de tinta e com uma pintinha branca borrando seu nariz. O eterno mistério será como ela conseguiu ir parar lá.

Rapidamente, ando ao seu encontro e evito que qualquer discussão comece. Eu sei que deveria deixar que a obra fosse finalizada antes de ver, mas é impossível não observar a sua concentração enquanto pinta. É uma das cenas que me fortalece nos piores momentos.

Beijos seu lábios com carinho, àquele que um dia juramos jamais deixar morrer. Seguro seu corpo junto ao meu, em mais uma promessa muda de que sempre estarei aqui, ao seu lado.

Finalizo o contato com um sorriso, dando-lhe às costas e me dirigindo à porta. Sei que daqui algumas horas você irá me encontrar em nosso quarto, com o sentimento de dever cumprido e um sorriso brilhante em seus finos lábios. Não resisto, e antes que a porta do ateliê se feche, comento:

– Eu adoraria ser a sua companhia nessa paisagem... é uma ideia a se pensar. – seus olhos brilham em alegria, e antes que a conversa se estendesse fazendo com que você perdesse o foco, saio do quartinho improvisado com um grande sorriso iluminando meu rosto. 

Ah Saudade


(algumas lembranças póstumas
em forma de meros sonetos)

I

Yolanda, lindíssima Yolanda.
Podem se passar anos e anos,
E você sempre será a mais bela,
A mais amada, a mais lembrada.

Teus olhos, negros como a noite,
Sempre tão cheios de carinho e amor.
Como, querida (vovó) Yolanda,
Eu pude viver tanto tempo sem ti?

Quero acreditar que não era o momento.
Que Deus nos reservava um futuro,
Que brilhou mais que qualquer outro.

Em teus braços chorei, sofri.
Em teu colo sorri, vivi.
 E hoje só me restam lembranças...

II

Conceda-me essa dança, querida?
Somente mais uma valsa,
Para relembrar os anos dourados.
Ah, a velha nostalgia bate à porta.

Cada dia é mais uma batalha vencida.
Os anos me fazem esquecer seu rosto,
Mas eu jamais esquecerei teu amor,
Teus sorrisos e teu nobre coração.

Queria ter você ao meu lado,
Vendo o quanto cresço e amadureço.
Estou me tornando uma mulher, sabia?

Mas já não podemos compartilhar disso.
Já não tenho seus abraços, seus afagos.
De lembranças vou vivendo, amada Yolanda. 

Lost Valentine


Be the valentine
[...] This is harvest time, taste the bloodred wine
[...]
I live in memories [...]

Xandria – Valentine

XxX

Bianco fitou com desilusão a silhueta feminina
Que de tanto sofrimento tornou-se desfalecida.
Com sangue jorrando de seu pescoço feito queda d’água 
Restou apenas o remorso e o passado – e também certa mágoa.

A colheita de sangue inocente havia acontecido
E Bianco fora novamente o Valentim apaixonado.
Não houve sequer tempo para que ele ficasse ensandecido,
Pois a vítima da vez envolvera-se como predeterminado.

E em suas mais antigas e insanas lembranças
Bianco lembrava-se das matanças e das vinganças.
A cada piscar de olhos um flash – uma luta por sanidade.

Mas agora não havia esforços nem reforços que ajudasse,
Pois sua mente e alma estavam perdidamente marcadas.
Donos de si agora eram a Escuridão e a Maldade – abraçadas.

Restavam apenas lembranças...

E dor...

E sangue...

E, por fim, o nada.